O Colóquio Internacional “Linguagens sincréticas: novos objetos, novas abordagens teóricas”, que acontecerá nos dias 30 e 31 de janeiro de 2019 na Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara, será consagrado ao estudo semiótico teórico e aplicado da combinação de diferentes linguagens (verbal, visual, sonora, gráfica, pictural, fotográfica, espacial, etc.) na construção de objetos contemporâneos como as inscrições e as intervenções urbanas, a história em quadrinhos, a mídia, a divulgação científica e a poesia visual, entre outros, preferencialmente em abordagem comparativa Brasil/Bélgica.
O colóquio é uma atividade do projeto bilateral Sprint Fapesp/FNRS Semiotic Approaches to Syncretic Discourses (processo Sprint Fapesp/FNRS n. 2016/50473-0), em parceria da Unesp com a Université de Liège (Bélgica), sob a responsabilidade de Jean Cristtus Portela (Unesp) e Maria Giulia Dondero (FNRS/ULiège), e dará continuidade aos trabalhos iniciados na Journée d’études “Les langages syncrétiques: vers une approche énonciative et matérielle”, realizada na Université de Liège, em outubro de 2017, por M. G. Dondero (FNRS/ULiège), S. Badir (FNRS/ULiège), J.-P. Bertrand e F. Provenzano (ULiège).
A inscrições para participação como ouvinte podem ser feitas até 29/01/2019 (40 vagas, entrada franca):
Os resumos das comunicações podem ser consultados abaixo.
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Colóquio Internacional “Linguagens sincréticas: novos objetos, novas abordagens teóricas”
Projeto Bilateral Sprint Fapesp/FNRS, Unesp/Université de Liège
30 e 31 de janeiro de 2019, FCL/Unesp, câmpus de Araraquara - Anfiteatro E
R E S U M O S
Os sincretismos constitutivos e potenciais do plano de expressão: um estudo da poesia brasileira contemporânea
Antonio Vicente Seraphim Pietroforte (USP)
A poesia circula entre seus coenunciadores, predominantemente, por meio de livros, realizando-se, desse modo, em uma semiótica que parece explicitamente verbal. Escrita nos livros, essa poesia se presta a análises centradas no plano de conteúdo, pois, lida em silêncio, ela aparece muda. A poesia, porém, é expressa em formas prosódicas e fonológicas, o que a aproxima das semióticas musicais, ao menos ritmicamente, por meio dos pés de versos, e sonoramente, por meio de rimas, aliterações e assonâncias. Uma vez estabilizadas formas prosódico-fonológicas, elas também implicam, de modo menos explícito, relações espaciais, marcadas pela regularidade seja dos pés de verso, seja da disposição sistemática de rimas, aliterações e assonâncias, seja pela combinação de ambas. Há, por isso mesmo, sincretismo musical e visual, mesmo que potencialmente, em semióticas, em princípio, apenas consideradas verbais. Com base nesse questionamento e no estudo de alguns casos da poesia brasileira contemporânea, nossa comunicação encaminha-se para uma concepção sincrética de todo plano de expressão, buscando superar alguns problemas de epistemologias baseadas no sincretismo entre diversas semióticas, com códigos específicos, além de propor uma análise gerativa do plano de expressão inspirada no modelo musical da estética da sonoridade, proposto por Didier Guigue, professor de música da Universidade Federal da Paraíba.
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Textos de divulgação científica na revista Pesquisa Fapesp
Arnaldo Cortina (Unesp/CNPq)
Este trabalho tem por objetivo examinar a constituição verbo-visual dos textos publicados na revista Pesquisa Fapesp, que tem o intuito de difundir para o público geral resultados de pesquisas desenvolvidas em âmbito internacional e nacional, principalmente no que se refere às universidades brasileiras ou do estado de São Paulo. As reportagens da revista trazem sempre informações científicas acompanhadas de elementos visuais que pretendem dar um contorno mais didático para as informações. Procuraremos verificar como se dá, portanto, a relação entre os elementos verbais e os visuais na configuração dos textos das reportagens.
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Représentation diagrammatique des rapports symboliques dans les preuves logico-mathématiques
Bruno Leclercq (Université de Liège)
Du fait de leur bidimensionalité, diagrammes et graphes permettent de figurer dans l'espace des rapports formels complexes et pluridimensionnels structurant des domaines abstraits tels qu'on les trouve dans la pensée logico-mathématique. C'est la raison pour laquelle ils accompagnent régulièrement les symboles linguistiques dans les preuves logico-mathématiques. A partir d'exemples concrets de différents modes de démonstration en logique des prédicats, nous tâcherons toutefois de montrer que cet avantage de bidimensionnalité sert moins à figurer iconiquement les rapports abstraits eux-mêmes qu'à figurer les rapports formels entre symboles qui représentent ces rapports abstraits.
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A transversalidade das categorias tensivas no tratamento da expressão
Carolina Lindenberg Lemos (UFC)
Na busca por categorias que pudessem dar conta do aspecto mais fluido e contínuo do sentido, Zilberberg (2011; 2012; entre outros) importa elementos advindos da expressão musical e atribui-lhes amplitude e generalidade na formulação tensiva. Em outra ocasião (LINDENBERG LEMOS, 2010; 2016), na esteira de Tatit (2007), investigamos de que maneira as categorias tensivas são subjacentes às categorias semissimbólicas. Esses estudos não somente criam as condições para um tratamento menos ad hoc das relações entre expressão e conteúdo, como também oferecem a possibilidade de analisar ambos os planos da linguagem com as mesmas categorias. Nesta fase da pesquisa, propomos estender o emprego das categorias tensivas para tratar transversalmente as diferentes linguagens de manifestação envolvidas nos objetos sincréticos. Dessa forma, o uso de um ferramental único para tratamento das diferentes substâncias da expressão permite levantar, por exemplo, a questão de se a análise aponta para uma convergência ou para um conflito entre as diferentes linguagens; e, como no semissimbolismo, se o resultado da análise da(s) expressão(ões) gera cifras convergentes ou conflituosas com a cifra do conteúdo.
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Sincretismo do verbal e do visual nos textos na internet: questões de temporalização e de espacialização
Diana Luz Pessoa de Barros (Mackenzie/USP/CNPq)
Nesta exposição, o objetivo é examinar a programação temporal dos textos sincréticos de verbal e de visual na internet. A caracterização dos discursos na internet pelo sincretismo e pela complexidade concessiva entre fala e escrita, que propomos em vários estudos, explicam o interesse e a necessidade de se examinar a programação textual desses textos. A exposição está organizada em duas partes; a primeira sobre a programação textual, em que são apresentados os conceitos semióticos de texto e de plano da expressão; a segunda sobre a programação dos textos na internet, em que são examinadas as decorrências do sincretismo entre o verbal e o visual na programação desses textos. Foram analisados casos de programação textual no WhatsApp, no Jornal Online e no Facebook. Entre os resultados obtidos deve ser salientado que os textos na internet, em decorrência da complexidade entre fala e escrita e, portanto, do sincretismo verbo-visual, são tecidos de muitos fios temporais: o da organização temporal do discurso; o da programação sonora linear do tempo e o da organização visual e, portanto, espacial do tempo. O último caso é uma embreagem heterocategórica, em que a programação espacial produz o sentido de organização também temporal.
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Intersemiótico: imagem/texto
Elizabeth Harkot-de-la-Taille (USP)
Juliana Di Fiori Pondian (USP)
Será apresentado o conceito de Francis Edeline de Intersemiótico, conjugando as linguagens verbal e visual, ou, mais especificamente, o movimento que as faz evoluir em uma ou outra direção, a transmigração da imagem em texto e vice-versa, a partir de objetos específicos. Edeline traça o percurso que leva de uma semiótica a outra e vai do mandala (dotado de uma visualidade que se manifesta estruturalmente como texto) ao poema visual (texto que se converte em imagem), tendo como graus intermediários o brasão, o caligrama, o poema semiótico, o monograma, o poema letrista, a tatuagem, o yantra, o rébus, as letras capitais medievais e os alfabetos hieroglíficos. A partir das proposições de Edeline, serão observados alguns exemplos da intersemioticidade na poesia visual, justamente um entre-lugar já classificado como Intersemiótico, Sincrético, Híbrido, Multimodal, Intermedia, entre outras denominações que evocaram a pergunta (título de livro-poema) de Arnaldo Antunes: Como é que chama o nome disso?
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Syncrétismes urbains: typologie rhétorique des inscriptions de rue
François Provenzano (Université de Liège)
Le propos défendra l’hypothèse selon laquelle le cadre urbain est un opérateur de syncrétisme, c’est-à-dire une configuration à la fois sociale et spatiale qui favorise les mises en tension de systèmes sémiotiques différents. Cette hypothèse puisera notamment aux sources des essais de Benjamin et de Kracauer, ainsi qu’aux apports plus récents de la linguistique interactionniste dans les études urbaines (Mondada). Elle sera mise à l’épreuve du cas des inscriptions de rue, dont nous proposerons une typologie rhétorique, attentive aux positions énonciatives qu’elles mettent en jeu, aux formes de conflictualité qu’elles scénarisent (ou au contraire qu’elles lissent), aux matérialités qui les supportent, et aux modes d’institutionnalisation qui s’y appliquent.
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O retrato como estratégia de humanização no jornal impresso
Matheus Nogueira Schwartzmann (Unesp)
O objetivo de nosso trabalho é discutir as estratégias enunciativas envolvidas na construção da(s) identidade(s) e do(s) corpo(s) de vítima(s) de violência, em uma reportagem publicada no Caderno “Cotidiano”, do jornal diário Folha de São Paulo. De modo geral, matérias com tal conteúdo no Caderno “Cotidiano” valem-se de recursos sincréticos que levam ao apagamento da identidade das vítimas. Tais recursos incluem, frequentemente, o uso de infográficos, ilustrações e fotografias panorâmicas ou desfocadas, que, quando o fazem, revelam apenas parcialmente cenas do crime e os corpos dos sujeitos citados na matéria. Ao contrário do que acontece em veículos de mídia ditos sensacionalistas, a Folha de São Paulo parece adotar uma evidente estratégia de dessensibilização, que por sua vez promove um processo de desumanização das vítimas, tornando o fato mais palatável para um jornal diário, distanciando a realidade violenta narrada na matéria da vida cotidiana do enunciatário-leitor. É por essa razão que o emprego do retrato de uma vítima, em matéria de novembro de 2017, nos chama a atenção: trata-se de uma estratégia que vai, pouco a pouco, reconstruir uma história de vida, um corpo, uma classe social, levando a um procedimento de ressensibilização à violência. Tal estratégia, que tem no uso do retrato, como queremos crer, o seu ponto de partida, leva a um processo de identificação e de aproximação entre a imagem da vítima e a própria imagem do enunciatário-leitor do jornal, culminando em um inusual procedimento de humanização.
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Sincretismo, sinestesia, profundidade
Norma Discini (USP)
Atentando para pinturas contemporâneas, sobre as quais são inscritos enunciados verbais, examinaremos essa semiose plástica peculiar – com vistas a descrever como o sincretismo evolui para a sinestesia. A partir daí descreveremos como se esboçam, no interior dos quadros, diferentes estratos de profundidade para a instalação do observador-contemplador. Concebendo a sinestesia não restrita a uma figura de retórica, mas como operador da sensibilidade estética, verificaremos quais são os recursos sincréticos que, incorporados à sinestesia, promovem aumento da emoção e fortalecimento da tonicidade do sentir na percepção da própria estesia. Para isso, tomaremos como apoio: a) as bases da semiótica discursiva, em especial o estudo sobre o Crer e o saber (um único universo cognitivo), de Algirdas Julien Greimas (2014); b) os desdobramentos tensivos da teoria, em especial o estudo de Claude Zilberberg sobre a sinestesia (2005) e sobre a aspectualização da temporalidade e da espacialidade (2006); o estudo de autoria Sémir Badir, Sur la Profondeur (2009). Como objeto de análise, traremos à luz pinturas de José Antônio da Silva (1909-1996), artista brasileiro classificado como “naïf”: um pintor que imprimiu segmentos verbais na superfície de alguns de seus quadros, a fim de denunciar injustiças sofridas, entre outras frentes apresentadas como advindas da relação dele, sujeito, com o mundo. De outro lado, traremos para análise quadros de León Ferrari (1920 – 2013), especialmente aqueles em que o artista inscreveu frases em braille sobre imagens de santos, colhidas do discurso religioso. Da comparação entre uma estética e outra, um espaço – cotejado entre o deslocamento e a fixidez favorecidos pelo tipo de sincretismo – priorizará estratos mais profundos ou menos para a instalação do actante observador-contemplador.
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A enunciação sincrética como base da tensão entre o sincretismo e o hibridismo
Renata Mancini (UFF/LabS-SeDi)
Partiremos de uma visão geral do percurso de pesquisa que buscou a aproximação da Semiótica com os Estudos de Tradução e Adaptação, cujos desdobramentos também nos levaram a uma segunda linha de indagação que envolve a formação de linguagens híbridas. Num primeiro momento, apresentaremos alguns parâmetros de análise do processo tradutório pautados pela semiótica discursiva, em seus desdobramentos mais recentes da abordagem tensiva (ZILBERBERG, 2006). A questão de base é a de que uma tradução, (interlingual ou intersemiótica) cria um simulacro de proximidade entre o texto de chegada e o de partida quando preserva certa unidade do modo de enunciar, a despeito das diferenças inerentes aos meios e aos modos de engajamento (HUTCHEON, 2013) envolvidos. O tradutor recria o projeto de partida em um novo ato enunciativo que se estabelece como simulacro (mais ou menos próximo) do ato original. A partir de parâmetros semióticos, com destaque para a definição de um arco tensivo que modula a base sensível sobre a qual se estabelecem as estratégias de textualização - mobilização das categorias de expressão e, no conteúdo, os arranjos narrativos, as dinâmica dos pontos de vista e o direcionamento ideológico/axiológico proveniente de escolhas temáticas e figurativas -, podemos propor o escalonamento das identidades de partida e de chegada, contemplando desde uma identidade forte até uma identidade tênue entre as obras. Entendemos que esta é uma contribuição da semiótica para uma discussão mais produtiva sobre “FIDELIDADE” e para o entendimento da tradução enquanto PROCESSO. Ao entender o arco tensivo da obra de partida como passível de ser redesenhando numa obra de chegada, apesar das coerções que diferentes substâncias de expressão venham a impor, estamos fazendo coro com Fiorin, que na esteira de Floch, propõe que “a sincretização é um mecanismo de enunciação” (FIORIN, 2009). Procuraremos desdobrar essa noção. O foco no processo das traduções intersemióticas e no modo de operar da enunciação sincrética nos levou a um segundo momento da pesquisa, em que o que está em jogo não é apenas a recriação, mais ou menos nítida, da obra de partida em uma obra de chegada subjugada a novas coerções, mas sim a recriação de elementos da linguagem de partida na de chegada, criando a presença, mais ou menos marcada, de uma linguagem na outra. Entender os limites desse processo na construção de linguagens híbridas, a partir da noção de práxis enunciativa, se abre como uma possibilidade de desdobramento das propostas desenvolvidas até o momento.
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La formation du monde: réflexions sur l’ontologie de la bande dessinée
Sémir Badir (F.R.S.-FNRS/Université de Liège)
Dans cette intervention, nous présenterons douze petites réflexions relatives à l’ontologie de la bande dessinée : 1. Un souvenir d’enfance, 2. Éloge de Stanley Cavell, 3. Oublier la sémiotique, 4. La formation et la représentation du monde, 5. Généalogie de la forme, 6. Nommer, raconter les formes, 7. Excursus sur le récit, 8. Légendes, lettrages, bulles, 9. Mondes parlants et mondes mutiques, 10. Eye-tracking studies, 11. La vecture, 12. L’image fantôme.
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Semiótica verbal como sincretismo: uma hipótese de abordagem
Thiago Moreira Correa (USP)
A consideração de diversas substâncias para uma mesma forma no plano da expressão afeta uma abordagem não contraditória do sincretismo (Hjelmslev, 1968). Essa perspectiva de Floch (1986), e do próprio Hjelmslev (Fiorin, 2009, p.36), pode ser fundada pela apreensão da semiótica verbal, que traz um vínculo intenso entre a oralidade e a plasticidade grafemática. No entanto, acreditamos que a semiótica plástica verbal possui autonomia semiótica. Essa visão está pautada nos trabalhos do Grupo μ e, atualmente, na pesquisa de Pondian (2016), que corroboram a autonomia plástica da linguagem verbal. Então, propomos que a semiótica verbal seria uma semiótica sincrética, em que haveria a suspensão de invariantes nos planos do conteúdo (por fusão), conforme propõe Floch (1986). Já o plano da expressão seria manifestado pelas formas plástico-grafemáticas e orais que poderiam ser relacionadas pelo enunciador de acordo com seu grau de intimidade (Carmo Jr., 2009). Para isso, a hipótese lançada busca na prática da pixação seu objeto de análise.
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