Resenha de artigo
HÉBERT, L. Petite
sémiotique du rythme. Éléments de rythmologie, Signo. Québec: Rimousk, 2011. Disponível em: http://www.signosemio.com/semiotique-du-rythme.asp.
Levi Henrique
MERENCIANO
Unesp – FCL/Araraquara
Doutorado
CAPES
Semiótica do ritmo – legado
saussuriano
Em Petite sémiotique du rythme, Louis Hébert vale-se das noções
saussurianas do signo linguístico (em torno dos conceitos de significante e
significado), a fim de desenvolver um método descritivo da expressão que
descreva as diferentes semióticas por meio do significante. Nessa direção
estruturalista, pensa nas possibilidades de organização rítmica das diferentes
unidades de expressão. Partindo da sintagmatização de unidades significantes, Hébert
menciona ser necessárias três operações para produzir ritmo:
- a segmentação em unidades;
- sua disposição;
- e a seriação dessas unidades.
Hébert vale-se de critérios de segmentação, com vistas a dispor as unidades
significantes e propor recursos para seriá-las, com o intuito de observar a
organização própria das diferentes semióticas – os processos de seriação de
unidades de sentido.
Assim, uma unidade mínima de ritmo é obtida a partir de configurações
particulares, por meio da consecução espaço/temporal de significantes, que devem
ser constituídos ao menos por duas unidades, de valor idêntico (A,A) ou
diferente (A,B), em ao menos duas posições em sucessão no tempo. Os fatores possíveis,
a partir dos quais pode ser feita uma análise do ritmo, são: o número de
posições sucessivas; o número de posições simultâneas; o número de unidades por
posição sucessiva; o número de unidades suscetíveis de ocupar cada posição; o
tipo de unidades implicadas; a duração das unidades.
Ao indicar possibilidades de concomitância ou serialidade de
significantes, Hébert busca explicar que as semióticas podem diferir-se por
meio do ritmo. O autor parte dos significantes linguísticos, dizendo que
dependem de duas formas de distribuição quanto à forma da expressão: os
significantes fonêmicos e os significantes grafêmicos. Diz que as duas
distribuições nem sempre coincidem. Um fonema, por exemplo, pode estar
associado a mais de um grafema, como o “ch” do português. Ao dar importância às
características da serialidade inerente a unidades significantes, faz distinção
entre a realização das semióticas, articulando os tipos de consecução à
restrição ou liberdade do espaço/tempo. As articulações obedecem basicamente a quatro
tipos:
Consecução restrita + tempo/espaço livre
A leitura de um texto em prosa
ou de um poema depende da
linearidade do significante (ordem fixa). Portanto, o tempo/espaço é restrito,
mas a consecução é livre, pois a apreensão dos significantes está condicionada
ao modo pelo qual se lê: “[...] un texte
se lit en principe d’un mot au suivant, mais on peut prendre une pause entre
deux mots, on peut revenir en arrière, devancer, etc.” (HÉBERT, 2011, s/
p.) . Veja-se que não somente a semiótica verbal pode se comportar assim, mas a
fala também, de acordo com a forma que o falante desenvolve a sua linha de
prosódia. A leitura de um poema também demanda um tipo de consecução restrita
(obedece à linearidade do significante, mesmo que o tempo/espaço seja +/-
restrito), obedecendo à necessidade das equivalências da expressão (ritmo,
rimas, etc.). Essa consecução +/- restrita também pode ser observada nas formas
poéticas fixas, como é o caso dos sonetos e das
marcações silábicas, sobretudo nos versos binários e ternários, ascendentes e
descentes (PIGNATARI, 2005, p. 22-24).
Consecução restrita + tempo/espaço restrito
As semióticas do tipo audiovisual
(cinema, clipe, documentário, telejornalismo) ou sonoro (música) possuem um
tipo de consecução determinado pelo suporte por meio do qual se manifestam: “la projection d’un film en salle n’est pas
en principe interrompue, ralentie, accélérée, inversée, etc.” (HÉBERT,
2011, s/ p.). Mesmo que o audiovisual seja projetado em outros dispositivos
(DVD, tevê aberta), quando não se considera a intervenção humana (com pauses, rewinds, etc.), a consecução e o
tempo/espaço são sempre restritos.
Uma pintura, um desenho, uma escultura, uma fotografia, uma charge
demandam um tipo de consecução livre, assim como tempo/espaço livre, uma vez
que se pode ir de um detalhe a outro dessas representações visuais sem a
necessidade de uma ordem restrita, portanto. Diferentemente de unidades
grafemáticas, que dependem de uma sintagmatização fixa, uma imagem tende a
condensar seus elementos no espaço representado, assim como uma pretensa
captação simultânea de elementos denotados (em uma fotografia, por exemplo) ou conotados
(no caso de uma charge). No
caso do HQ (gibi), é possível tanto seguir uma consecução restrita, quanto
percorrer os quadrinhos livremente, pois as imagens seriadas não possuem uma
articulação de mesma complexidade que a de um texto, que obedece a uma linearidade
restrita de significantes para produzir sentido.
Uma peça de teatro possui a consecução baseada na performance do elenco
(livre, pois os pontos no espaço alternam-se nos diferentes contextos de
realização da encenação), mas o andar da peça depende de tempo restrito, pois
os momentos marcantes dos atos e suas transformações narrativas em geral
dependem da sincronia dos personagens com a equipe de produção. A dança também
poderá seguir uma sintagmática livre (como em uma discoteca, em que cada qual
faz seu passo), mas o tempo/espaço é marcado ritmicamente, conforme as batidas
da música.
Essas formas sintagmáticas (livres ou restritas) de conceber as unidades
significantes das diferentes semióticas, segundo Hébert, podem auxiliar a
responder inúmeras dificuldades em se analisar os diferentes sincretismos
próprios das diferentes manifestações semióticas. Na organização das unidades
fílmicas (no audiovisual, por exemplo), há dois tipos de ritmo de leitura
implicados na manifestação: um aliado ao fotograma, cuja estaticidade de alguns
enquadramentos mais lentos permite lê-los como imagens quase que decompostas
(quase que estáticas), a tempo de identificar até mesmo seus formantes
(consecução +/- livre); e outro, aliado à mobilidade (à ilusão de movimento, de
iconização do fluxo temporal, segundo consecução restrita), que vai desde a
combinação de gestos e pequenas ações dos personagens, até às performances de
perseguição típicas de Hollywood, com respeito às quais nem sequer é possível
que o espectador as acompanhe sem a necessidade de recursos (deturpadores da
expressão?), como pause, quadro a quadro, etc., ou até mesmo rever o filme
Referências
FLOCH, J.-M. Petites mythologies de l’oeil et de l’esprit.
Paris: Hadès-Benjamins, 1985.
______. Sémiotique,
marketing et communication – sous les signes, les strategies. Paris:
Presses Universitaires de France, 1990.
GREIMAS, A. J. & COURTÉS, J. Dicionário de semiótica. Tradução Alceu Dias Lima et alii. São Paulo: Cultrix, 1979.
______. Dictionnaire
raisonné de la théorie du langage II. Compléments, débats, propositions.
Paris: Hachette, 1986.
HÉBERT, L. Petite sémiotique du rythme. Éléments
de rythmologie, Signo. Québec:
Rimousk, 2011. Disponível em: http://www.signosemio.com/semiotique-du-rythme.asp.
PIGNATARI, D. O que é comunicação poética. 8.ed.
Cotia (SP): Ateliê Editorial, 2005.
SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. São Paulo:
Cultrix, 2006.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por enviar o seu comentário! Ele será publicado em breve.